segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

O dedo na Ferida

Texto publicado no jornal Gazeta do Sul em 07/01/2011



Primeira semana de governo Dilma e já notamos mudanças no novo cenário político brasileiro, bem como os grandes desafios da nova administração. Ex-guerrilheira na luta de resistência contra o regime ditatorial instaurado no Brasil em 1964, a nova presidenta Dilma Rousseff incumbiu a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), nomeada Ministra da Secretaria dos Direitos Humanos, de uma missão desgastante, porém importante: promover a instalação da chamada “Comissão da Verdade”, que visa investigar as prisões, torturas, mortes e os desaparecimento de presos políticos durante os “Anos de Chumbo”.

O novo chefe do Gabinete de Segurança Institucional, escolhido pela presidência, o General José Elito Siqueira, afirmou na última segunda-feira que “a existência de desaparecidos políticos durante a ditadura militar não deve ser motivo de vergonha, mas tratado como ‘fato histórico’. Mostrando uma resistência dos setores mais conservadores da sociedade brasileira em mexer no passado e revelar o que se passou durante os 21 anos de ditadura no Brasil. Desta maneira, podemos reduzir as mortes patrocinadas pelo Estado brasileiro a mero “fato histórico”? Poupe-me Senhor General!

Muitos que não querem revirar este “vespeiro”, falam em revanchismo e que deveríamos pensar também nos militares mortos pelos guerrilheiros, e punir de mesma forma os “subversivos” que lutaram contra o Estado Brasileiro. De ambos os lados houve mortes, infelizmente. A resistência armada, por mais pacifista que sou, torna-se, em determinadas situações o único meio de luta contra um regime. O Estado Brasileiro, com todo o seu aparelhamento “legal” prendeu, torturou, exilou e matou centenas de pessoas, sem direito de defesa. Os “subversivos” deveriam ficar parados em casa “com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar ?” Se formos por esta lógica, o ex-presidente francês, General De Gaulle, um dos líderes da resistência francesa, também deveria ser condenado por resistir à investida nazista em seu país. Ou até Bento Gonçalves poderia ser considerado um dos maiores assassinos da história do Rio Grande do Sul, por comandar uma guerrilha e matar vários brasileiros em 10 anos de guerra civil.

Vários países da América Latina, após a redemocratização iniciaram a abertura de seus arquivos, investigando e identificando os responsáveis pela utilização do Estado para perseguição e assassinato de seus compatriotas, por motivos políticos. A Argentina já julgou muitos de seus generais e torturadores. O Chile condenou Pinochet à prisão. E o Brasil? Até quando negaremos nosso passado recente?Porque tanto medo da abertura dos arquivos da Ditadura? Quem não deve, não teme. Só se possuírem motivos para este temor...

As ideologias da época em questão, não cabem neste pequeno texto. Desejo que leiam estas frases como um apelo de um futuro historiador, que vê no esquecimento uma grande forma de se praticar a injustiça. Todos devem ter direito à memória, principalmente as famílias desses desaparecidos. Abrir os arquivos da ditadura é preencher uma lacuna que muitos resistem em fechar. É nosso direito saber sobre a nossa História e nossas feridas. É direito desses desaparecidos, terem um túmulo com seus nomes gravados.