terça-feira, 7 de abril de 2009

Movimentos Sociais : "células anarquistas"?

* Rafael de Brito/ Estudante do Curso de História UNISC e Diretor da Diretoria de Movimentos Sociais do DCE UNISC.

Na edição da Gazeta do Sul, do dia 7 de abril de 2009, o senhor Júlio Cesar Cardoso manifestou sua indignação perante os atos “anarquistas” que movimentos sociais, em especial o MST, vêem fazendo em nosso país. Temendo que o Brasil “se transforme em célula de anarquia”, se não houver repreensão por parte das autoridades.
Não gostaria que viessem e invadissem minha casa, apropriando-se de meus pertences. Mas realmente é esse o tipo de “invasão” que os movimentos sociais campesinos estão fazendo?Ou estão ocupando grandes áreas de terra, pertencentes a empresas do setor privado, que exploram exaustivamente nossos recursos e pouco nos dão em troca?Quer se tirar propriedade de uma família, ou de grandes latifundiários que concentram grande capital e pouco se incomodam com a situação social da população?
Ao contestarmos as decisões políticas de um sistema governamental, desestabilizamos a relação governo/cidadão. Quando um determinado grupo de pessoas sai do “comodismo” imposto pela máquina governante e reivindica seus direitos, gerando um conflito ideológico, estas pessoas ou estes movimentos, tornam-se inimigos do “Estado Democrático de Direito” vigente e ganham rótulos de “anarquistas” ou “comunistas subversivos”. Quanto ao modo de manifestações, tenho minhas dúvidas se é apenas por parte dos movimentos sociais que se manifesta a violência. Se fizermos uma análise dos últimos protestos no estado, acho que a Brigada Militar deu mais tiro e espancou mais gente em nome da “ordem democrática”, do que os bancários e professores que foram duramente repreendidos pelo governo estadual. Não aprovo o uso de crianças nas manifestações, mas também acho que o maior descumpridor do Estatuto da Criança e do Adolescente é o Estado que o criou. Pelo que sei, toda a criança e adolescente tem o direito a ter educação e um lar. Ao mesmo tempo em que se proíbe o funcionamento de escolas itinerantes nos acampamentos do MST e se um pedaço de terra a ela e sua família há pelo menos 500 anos.
Outro fato que aparece no texto do Sr. Julio é de que “é inequívoca a mão de partidos de esquerda regendo essas invasões como forma de instalar aqui regimes socialistas comunistas ultrapassados”. Não deixa de ser uma verdade e uma mentira concomitantes. É amplamente conhecida a partidarização de vários movimentos, mas por que isto ocorre? Talvez porque, apenas a esquerda, preocupou-se com os problemas sociais enfrentados por sem-terras e funcionários públicos, entre outros grupos. Ao ponto de que a chamada direita, ficou ocupada nos anos da ditadura a caçar e matar estudantes, jornalistas e demais gêneros “subversivos” que manchavam a soberania nacional e assombravam o “Estado Democrático”, ou defendendo seus interesses políticos. Sinceramente, se o MST fosse financiado pelo Governo Federal como diz o referido texto, não haveria manifestações “anarquistas” contra o Presidente Lula, nem a invasão do Ministério da Agricultura. Mas fique tranqüilo Sr. Julio Cardoso, este medo da instalação de regime socialista comunista não assusta e nem tem quem o queira, há pelo menos 20 anos, desde a queda da União Soviética.
Ia me esquecendo! Se foi ou não jogada de marketing por parte do Governo Federal a promessa de construir 1 milhão de habitações no país, realmente não sei. Mas o que importa de fato, é que algo se fez. Poderia ter sido feito esse tipo de programa há muitos anos! O Getúlio, “pai dos pobres” poderia ter realizado algo. Assim como JK que preferiu gastar o dinheiro na construção de Brasília. Até mesmo Generais que ao invés de gastar grandes cifras em operações de repressão como a CONDOR, poderiam ter resolvido este problema com os frutos gerados do “milagre econômico” por qual o país passou, quando nas mãos do regime totalitário. É uma questão de boa-vontade de se fazer as coisas.
Durma sossegado meu senhor. Garanto-lhe que os “anarquistas” ou “comunistas devoradores de crianças” não ocuparão sua casa. Apenas se o senhor, ou sua família, tiverem inúmeras fazendas com plantações gigantescas de eucalipto...

4 comentários:

Melina Perussatto disse...

Adorei o texto, parabéns Rafa!
Dá uma olhada aqui: http://conquistadecaiboate.blogspot.com/

Lidiani Lehnen disse...

Mas olha o que eu descobri aqui. Um companheiro escritor ;)

Concorso contigo. Falta vontade do governo para fazer alguma coisa. E qualquer grupo de pessoas que tentem ir em busca de seus direitos (o que já é direito delas) amedrontam o governo e é então mais fácil rotular com termos que a sociedade considera perigosos.

Enquanto isso, alguns ainda dormem com terras que não podem nem atravessar a pé mais, de tão longinquas e inprodutíveis que estão sendo.

Beijos

BRUNO disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Helena Jungblut disse...

gostei muito do que escreveste, moço! =)
concordo sem tirar nem um erro de português! haha

mas penso, é complicado essa coisa de generalizar, de leis e tudo mais. hoje mesmo tava conversando com uma amiga, ela viu um programa que mostrava uma familia que tava sendo jogada pra fora de uma casa que eles tinham ocupado pq não tinha ninguém, o cara destruiu a casa que eles montaram, e um ano depois foram lá e a casa tava do mesmo jeito: destruida.

dai eu penso: poxa... =(