quinta-feira, 1 de julho de 2010

Louis le Grand - parte III

Sua Santidade: Luís, o Grande

No início desta resenha, dei rápidas pinceladas quanto ao status de santidade que pairava sobre Luís XIV. Vamos aprofundar neste tópico essa relação entre o rei e a mitificação de sua imagem com os súditos.

Um dos gestos mais “milagrosos” relatados por contemporâneos do Rei Sol é o chamado “toque real”. Acreditava-se que o rei, como o representante de Deus na terra, tinha o poder de com apenas um toque curar as pessoas enfermas. Durante todos os anos em que Luís se manteve no poder, centenas de pessoas iam atrás de seu soberano para terem a graça da cura concedida.

Na época de Versailles, temos o acentuado uso de ritual para o cotidiano. Onde o levantar e o acordar transformaram-se em cerimônias, digamos “cheias de frescuras”. Quando a mesa estava posta, mesmo na ausência do rei, quem entrasse deveria tirar o chapéu em reverência. Era uma grande honra poder acompanhar e auxiliar o ilustre monarca em seus momentos íntimos, como idas ao banheiro. Não se pode, no entanto, ridicularizar estas formas de reverência. É nosso dever analisar quão grande é o impacto e a credibilidade que conseguiu se construir de um líder. E também o poder de persuadir em um governo absolutista que vê a publicidade sua maior arma.

Após a morte de Lavois, o regime de Luís começa a entrar em profundo declínio e o reino da publicidade começa a mostrar falhas. Campanhas militares mal sucedidas, derrotas constantes no plano internacional faz com que o Rei Sol aos poucos se apague até o final de seu reinado em 1715.

“L’État c’est moi?”

A frase atribuída à Luís retrata o pensamento de um monarca, de certa forma egocentrista .Mas isso é de fato algo legítimo? O Rei Sol com certeza foi um líder “popular” e vaidoso com sua imagem, sendo que isto não o faz propriamente ser o Estado. Seu poder foi absoluto durante 72, mas mesmo assim não podemos fazer dele o único dono do reino da França. Havia um Estado antes e o mesmo continuou após a sua morte. Luís foi filho de seu tempo, soube jogar com as armas certas e com as pessoas certas.

“(...) representar o Estado não é o mesmo que ser identificado com ele. Bossuet lembrou ao rei que ele morreria, ao passo que seu Estado deveria ser imortal,e, ao que se conta, Luís falou em seu leito de morte: “Vou partir, mas o Estado permanecerá depois de mim”. Não se deve tomar o famoso epigrama demasiado literalemente.” (BURKER,pg.21)

Outros governantes se promoveram, no entanto não tornaram-se o Estado. Talvez, opinião minha no caso, ele investiu pesado no marketing pessoal e muitas vezes nos passa a falsa impressão que Luís XIV é a França e vice-versa.


REFERÊNCIA

BURKE, Peter. A fabricação do rei: a construção da imagem pública de Luís XIV. Rio de Janeiro: J. Zahar, c1994.

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