quinta-feira, 1 de julho de 2010

Louis le Grand - parte II

Patrocínio Real: faça jus ao teu pagamento!

Desde muito cedo construiu-se o mito de que o Rei era divino,onisciente. O representante direto de Deus na Terra. Ao contrário do que se pensa na maioria das vezes, a imagem do Estado personificada no monarca não é característica apenas da fase mais absolutista de seu governo. Ao assumir o governo com 4 anos de idade, mesmo sendo uma criança que mal sabia falar, já lhe era considerado o verdadeiro líder das vitórias do reino francês. Atribuía-se a ele o sucesso de campanhas militares, sendo ele o líder do exército que massacrara seus inimigos. Um marcante exemplo desta situação foi com a chamada Fronda (1648-1653) sendo uma revolta por parte do Parlamento, aristocracia e movimentos populares que se levantaram contra o governo, até então sob regência de Mazarin reivindicando melhorias econômicas e sociais. Na maior parte da revolta, Luís manteve-se afastado do poder porque ainda não completara a idade adequada para assumir sozinho a Coroa. Mas a vitória final e a derrota da Fronda foram consideradas “conquista do Rei”. Deste conflito e de outros futuros, originaram-se estátuas, quadros e medalhas tendo o rei como único e exclusivo detentor dessa história.

Com a morte do Cardeal em 1661, assume como auxiliar do Rei, Jean-Baptiste Colbert que será o responsável pelo crescimento e fortalecimento da figura real. Este período é considerado o passo decisivo para a auto-afirmação da imagem de Luís perante seu povo. É neste período que o governo incentiva a criação de academias de arte, centros científicos e de experimentos tecnológicos. Estrategicamente, Luís patrocina com grande entusiasmo essas academias incentivando-as para que construam da melhor maneira possível sua imagem,

(...)”quando podemos observar a ‘organização da cultura’ no sentido da construção de um sistema de organismos oficiais que mobilizavam artistas plásticos,escritores e eruditos a serviço do rei.” (BURKE, pg.62)

Logicamente este apoio vindo do rei, não era sem segundas intenções. Por trás das volumosas pensões dadas aos artistas contratados – tanto franceses como estrangeiros- havia uma subjetividade do trabalho a ser realizado pelos contratados.

Além da fundação de academias, tornou-se comum a criação de pequenas academias. Em especial a chamada “Petite Academie”, composta pelos principais dirigentes do governo. “Sua missão era essencialmente supervisionar a criação da imagem pública do rei”(pag.70). Uma espécie de órgão fiscalizador, que fiscalizava desde os textos a serem publicados, aos detalhes de moedas e quadros a serem feitos.

De Júpiter à Cristo: as mil faces do Rei.

Não era novidade naquela época o uso de alegorias para a representação de acontecimentos e glórias de um reino. Mas no caso do Rei Sol, chama muita atenção a constante preocupação para que isso acontecesse. Fazer o Rei parecer um deus grego, ou um grande personagem era de grande importância. Tornou-se uma política governamental de primeiro escalão.

“(...) devendo com freqüência ser entendidas como referências indiretas ao presente (e os espectadores do século XVII eram treinados para isso). Quando Luís pediu a Charles Lebrun que pintasse cenas da vida de Alexandre Magno, estava não só expressando sua admiração por Alexandre como se identificando com ele. Esperava-se que também os súditos fizessem essa identificação.” (BURKE,pg.43)

O rei também foi comparado em pinturas e obras literária com Clóvis, Hércules; Júpiter e Imperadores Romanos. Tamanho era a intensidade dessas alegorias, que Pierre Paul Servin retratou Luís como O Bom Pastor em uma pintura, referindo-se à imagem de Jesus Cristo.

Inúmeros retratos de Louis mostram o rei informal, até mesmo jogando bilhar. Mas ainda a maioria das pinturas eram do chamado “retrato solene”, onde “a pessoa é geralmente apresentada em tamanho natural ou até maior, de pé ou sentada num trono. Os olhos retratados estão acima dos olhos do espectador, para sublinhar sua posição superior”.(BURKE,pg.31). Curiosamente os artistas do rei vieram na contra-mão da tradição de sempre retratar os soberanos com a mesma aparência com que iniciou seu governo. Não eram retratos fiéis, mas observando as obras ao longo dos 72 anos em que Luís esteve no poder, podemos observar uma mudança na aparência com o passar dos anos. Exemplo mais digno desta situação é o retrato solene da autoria de Rigaud, onde se mostrou “fiel ao modelo até os olhos cansados e a boca encovada após a extração de dentes da arcada superior em 1685” (BURKE,pg.46).

Um acessório característico deste reinado foi a confecção de inúmeras moedas e medalhas para se comemorar os “feitos do rei”. A confecção dessas moedas aumentou no período mais bélico do reinado. Conflitos entre França e demais países do velho mundo foram um prato cheio para este meio. As guerras contra os espanhóis pela tomada dos Países Baixos, assim como na Guerra Holandesa fizeram com que vários tipos de “atos heróicos” fossem cunhados, assim como frases grandiosas em homenagem ao rei.

Neste período de guerras, Peter Burke ressalta um acontecimento em especial e a repercussão que este deu em meio às artes e do público em geral, que é a famosa Travessia do Reno. O jornal Gazette narra como “um feito que nem mesmo César igualara, pois que ele usara uma ponte, ao passo que Luís, mais capaz que os césares de resolver todas as dificuldades, transpusera os obstáculos à sua passagem sem esse tipo de ajuda mecânica”. Além de jornais, poemas narram esta proeza do Rei. Assim como o pesado uso de alegorias nas tapeçarias e quadros, que mostram Luís sendo carregado pelas figuras femininas da Vitória e da Glória, amedrontando os deuses da água.

Com a morte de Colber em 1683, assume em seu lugar Louvois que muda de certa forma a estratégia de marketing. O novo superintendente estendeu seu império sobre as artes, já que como era época de relativa paz, podia-se gastar com mais tranqüilidade as finanças. Foi neste período em que se reconstruiu o famoso Palácio de Versailles. Lavois não sem conteve apenas com quadros, livros e medalhas. Um grande fenômeno atribuído à ele é a “campanhas das estátuas” e a construção de prédios, palácios e arcos em homenagem ao rei francês. Com as guerras acima citadas, o número de territórios sobre o domínio da França era maior. Para que o poder dessas províncias continuassem na mão de Luís, incentivaram-se no interior a construção de inúmeros monumentos em homenagem à ele.

Nos oito anos em que Lavois manteve-se no governo, os gastos com a cortes em Versailles aumentaram significativamente, afirmando lá os chamados “ritos” tão famosas nos dias de hoje.

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