segunda-feira, 21 de maio de 2012

O RISO DOS DEUSES : A CRIAÇÃO DO MUNDO E A CONCEPÇÃO DO RISO NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA (Parte I)


INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como assunto principal a importância do riso na sociedade grega clássica. Sabe-se que muitas vezes, que os mitos de um determinado povo carregam aspectos sociais de seu tempo.  Mas porque estudar o riso? Teria o riso um importante papel na História? Diria que sim. A famosa mitologia grega, vê no riso um dos mais importantes elementos para se explicar o mundo e a sua organização. Mas o debate sobre o riso e o risível, não fica apenas na mitologia grega, sendo assunto de discussão entre os filósofos clássicos como Sócrates, Platão e Aristóteles. Ao longo dos séculos o riso, torna-se objeto de admiração e de repulsa, desejado por uns e odiado por outros. Sagrados para algumas tradições e visto como obra do Demônio por outras. Tão odiado fazendo com que pessoas envenenassem as páginas de um livro em um mosteiro, onde se é proibido rir, como nos retrata Umberto Eco em 1980.



O ESPAÇO DO RISÍVEL NA HISTÓRIA

Através dos séculos, o riso conheceu variadas formas de interpretação e de utilização social. Na antiguidade tinha aspecto sagrado e significava um contato dos Homens com o divino. Também significava a morte e a desordem do mundo terreno.  Aristóteles (384 a.C – 322 a.C) em seu tratado “Das partes dos Animais”, afirma que “o ser humano é o único animal capaz de rir”, nota-se que a problemática do riso e sua percepção como algo pertencente a todo o ser humano já é discutida há muito tempo pela humanidade.
Porém, as discussões realizadas em torno do riso e do que é risível por muito tempo ficaram circunscritos aos debates anatômicos e no campo filosófico pensadores como Hobbes, Descartes foram um dos primeiros que deram uma visão moderna do risível.
No campo da História, este debate, em relação às outras ciências começou de forma tardia. Com as mudanças historiográficas no início do século XX, principalmente com o surgimento da Escola dos Annales, questões culturais, do pensamento e dos sentimentos tornaram-se objetos de estudo histórico.
Para José Rivair Macedo :
“O estudo da história do riso, ligado ao campo das manifestações de sensibilidade coletiva, não deve estar desvinculado das realidades sociais subjacentes à criação cultural. O problema, em nosso entender, não é o riso em si, mas o que ele pode revelar ou ocultar.” (2000 , p. 23).

Desta maneira, não podemos pensar no riso como algo isolado e sim, como um fenômeno coletivo que expressa e nos dá amostra do pensamento de um determinado contexto. O ato de rir é inerente ao ser humano, um aspecto fisiológico que se resume a movimentos dos músculos faciais. Porém, é oportuno compreender quais os motivos que causaram esses risos ao longo da história. Pois o homem, a sociedade e as percepções mudam, mesclam-se e  reestruturam-se com o passar do tempo.
Neste sentido:
“Se, de fato, a faculdade de rir caracteriza a natureza humana, então o riso é produto de uma dada cultura, resultando da complexidade do social. Assim sendo, este não estaria sujeito a condicionamentos, desdobramentos e transformações? O homem ri, é verdade, mas nem sempre pelos mesmos motivos, muito menos nas mesmas circunstâncias.” (MACEDO, p.22)

      As diversas maneiras de se apresentar o riso e o seu risível também são mais complicadas do que podemos imaginar. Ao longo dos séculos o riso recebeu várias conotações. Como dito antes, visto como algo sagrado pela maioria das civilizações ocidentais clássicas; obra do demônio pela Igreja durante a Idade Média; de simples felicidade, de escárnio e humilhação. Desta forma, a o estudo do riso e do seu papel na formação das sociedades e dos indivíduos ao longo da história é de extrema importância para que possamos entender, ao menos em parte, o conjunto de valores presente nos mitos.
      A temporalidade deste artigo limita-se à sociedade grega clássica e a visão que os gregos antigos tinham de seus mitos e o papel do riso e do risível entre eles. Podemos dividir a duas principais fases: o riso sagrado e o riso racional. Este primeira fase, característica da fase arcaica grega que via o riso com m caminho ao sagrado. Já o segundo, pensado de forma mais racional pelos filósofos gregos, tendo sido atribuído aos Homens, e não mais aos deuses, a vontade de rir. “Durante muito tempo, saber o que é o riso foi desvendar os mistérios de uma faculdade humana marcada pela superioridade em relação aos animais e pela inferioridade em relação a Deus.” (Alberti, 2002, p.40).





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