INTRODUÇÃO
O
presente artigo tem como assunto principal a importância do riso na sociedade
grega clássica. Sabe-se que muitas vezes, que os mitos de um determinado povo
carregam aspectos sociais de seu tempo. Mas
porque estudar o riso? Teria o riso um importante papel na História? Diria que
sim. A famosa mitologia grega, vê no riso um dos mais importantes elementos
para se explicar o mundo e a sua organização. Mas o debate sobre o riso e o
risível, não fica apenas na mitologia grega, sendo assunto de discussão entre
os filósofos clássicos como Sócrates, Platão e Aristóteles. Ao longo dos
séculos o riso, torna-se objeto de admiração e de repulsa, desejado por uns e
odiado por outros. Sagrados para algumas tradições e visto como obra do Demônio
por outras. Tão odiado fazendo com que pessoas envenenassem as páginas de um
livro em um mosteiro, onde se é proibido rir, como nos retrata Umberto Eco em
1980.
O ESPAÇO DO RISÍVEL NA
HISTÓRIA
Através
dos séculos, o riso conheceu variadas formas de interpretação e de utilização
social. Na antiguidade tinha aspecto sagrado e significava um contato dos
Homens com o divino. Também significava a morte e a desordem do mundo
terreno. Aristóteles (384 a .C – 322 a .C) em seu tratado “Das
partes dos Animais”, afirma que “o ser humano é o único animal capaz de rir”, nota-se
que a problemática do riso e sua percepção como algo pertencente a todo o ser
humano já é discutida há muito tempo pela humanidade.
Porém,
as discussões realizadas em torno do riso e do que é risível por muito tempo
ficaram circunscritos aos debates anatômicos e no campo filosófico pensadores
como Hobbes, Descartes foram um dos primeiros que deram uma visão moderna do
risível.
No
campo da História, este debate, em relação às outras ciências começou de forma
tardia. Com as mudanças historiográficas no início do século XX, principalmente
com o surgimento da Escola dos Annales, questões culturais, do pensamento e dos
sentimentos tornaram-se objetos de estudo histórico.
Para
José Rivair Macedo :
“O
estudo da história do riso, ligado ao campo das manifestações de sensibilidade
coletiva, não deve estar desvinculado das realidades sociais subjacentes à
criação cultural. O problema, em nosso entender, não é o riso em si, mas o que
ele pode revelar ou ocultar.” (2000 , p. 23).
Desta maneira, não podemos pensar no riso como
algo isolado e sim, como um fenômeno coletivo que expressa e nos dá amostra do
pensamento de um determinado contexto. O ato de rir é inerente ao ser humano,
um aspecto fisiológico que se resume a movimentos dos músculos faciais. Porém,
é oportuno compreender quais os motivos que causaram esses risos ao longo da
história. Pois o homem, a sociedade e as percepções mudam, mesclam-se e reestruturam-se com o passar do tempo.
Neste sentido:
“Se,
de fato, a faculdade de rir caracteriza a natureza humana, então o riso é
produto de uma dada cultura, resultando da complexidade do social. Assim sendo,
este não estaria sujeito a condicionamentos, desdobramentos e transformações? O
homem ri, é verdade, mas nem sempre pelos mesmos motivos, muito menos nas
mesmas circunstâncias.” (MACEDO, p.22)
As diversas maneiras de se
apresentar o riso e o seu risível também são mais complicadas do que podemos
imaginar. Ao longo dos séculos o riso recebeu várias conotações. Como dito
antes, visto como algo sagrado pela maioria das civilizações ocidentais
clássicas; obra do demônio pela Igreja durante a Idade Média; de simples
felicidade, de escárnio e humilhação. Desta forma, a o estudo do riso e do seu
papel na formação das sociedades e dos indivíduos ao longo da história é de
extrema importância para que possamos entender, ao menos em parte, o conjunto
de valores presente nos mitos.
A
temporalidade deste artigo limita-se à sociedade grega clássica e a visão que os
gregos antigos tinham de seus mitos e o papel do riso e do risível entre eles.
Podemos dividir a duas principais fases: o riso sagrado e o riso racional. Este
primeira fase, característica da fase arcaica grega que via o riso com m
caminho ao sagrado. Já o segundo, pensado de forma mais racional pelos
filósofos gregos, tendo sido atribuído aos Homens, e não mais aos deuses, a
vontade de rir. “Durante muito tempo, saber o que é o riso
foi desvendar os mistérios de uma faculdade humana marcada pela superioridade
em relação aos animais e pela inferioridade em relação a Deus.” (Alberti, 2002,
p.40).
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